O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um tema frequentemente discutido na internet e redes sociais, muitas das vezes com informações incompletas ou até incorretas. É um assunto que gera inúmeras dúvidas aos pais, professores e profissionais de saúde.
Esse artigo aborda conceitos fundamentais sobre o TDAH com o objetivo de trazer informação técnica e acessível.

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Dra Paula é especializada em desenvolvimento infantil, com experiência em atendimento de crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento.
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O QUE É TDAH?
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por sintomas persistentes de desatenção, hiperatividade e/ou impulsividade que interfere no funcionamento e desenvolvimento do paciente. Os sintomas se evidenciam na infância, antes dos 12 anos de idade e estão presentes em dois ou mais ambientes, como casa ou escola. O transtorno afeta o funcionamento social, acadêmico e profissional, o que gera desafios no planejamento e organização de tarefas.
A maioria das pessoas diagnosticadas com TDAH na infância persiste com sintomas na vida adulta.
O TDAH não possui uma causa definida. O transtorno apresenta alta carga genética, com estimativa de herdabilidade de 75%, ou seja, apresenta risco aumentado de diagnóstico em parentes de primeiro grau de pacientes com TDAH.
Estudos com imagens funcionais cerebrais demonstram diferenças em áreas específicas do cérebro de pessoas com o transtorno. No entanto, essas diferenças não são visualizadas em imagens de ressonância convencional. Acredita-se também que alterações no metabolismo de catecolaminas, como a dopamina e noradrenalina, estejam diretamente relacionadas aos sintomas do transtorno.
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EPIDEMIOLOGIA
A prevalência mundial do TDAH em crianças e adolescentes varia de 3 a 8% a depender dos critérios diagnósticos, da população estudada e da idade das pessoas avaliadas.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde de 2022, a prevalência é de 7,6% de pessoas entre 6 a 17 anos e 5,2% de indivíduos entre 18 a 44 anos.
Já o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria, cita prevalência mundial em torno de 5% para crianças e de 2,5% em adultos.
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SINAIS E SINTOMAS
Os sintomas do TDAH são classificados em três categorias:
Desatenção:
- Dificuldade de prestar atenção aos detalhes.
- Dificuldade de manter o foco em tarefas ou atividades lúdicas.
- Parece não ouvir quando falam com o paciente.
- Não segue instruções até o fim e não termina tarefas.
- Dificuldade de organizar tarefas e atividades.
- Evita envolver-se em tarefas que exigem esforço mental prolongado.
- Perde objetos necessários para o cotidiano.
- Distrai-se facilmente por estímulos externos.
- Apresenta esquecimento em atividades diárias.
Hiperatividade:
- Agitação motora excessiva (correr, escalar, etc.).
- Dificuldade em ficar quieto ou sentado.
- Fala excessivamente.
- Dificuldade de esperar sua vez.
Impulsividade:
- Responde impulsivamente antes de a pergunta ser concluída.
- Interrompe ou se intromete em conversas ou jogos.
- Toma decisões precipitadas, sem avaliar riscos.
Os sintomas devem ser persistentes e acarretar prejuízo ao dia a dia do paciente. Nem todas as crianças que apresentam alguns dos sintomas relatados serão diagnosticada com o transtorno. Além disso, o diagnóstico não depende da presença de todos os sintomas. O TDAH pode se manifestar de forma predominantemente desatenta, predominantemente hiperativa/impulsiva ou combinada, a depender dos principais sintomas apresentados.
A avaliação especializada é essencial para o diagnóstico correto.
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COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO?
Assim como em outros transtornos do neurodesenvolvimento, como o autismo (clique aqui para saber mais sobre TEA), o diagnóstico do TDAH é clínico e não necessita de exames adicionais. Sempre que possível, o diagnóstico deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar, idealmente com a participação do neuropediatra, psicólogo e pedagogo.
Para confirmar o TDAH, o profissional de saúde mental avalia:
- Histórico clínico detalhado: análise do desenvolvimento desde a infância, de comportamentos relevantes e de desempenho escolar.
- Observações de pais, professores e cuidadores: relatos sobre o comportamento da criança em casa, na escola e em outros ambientes.
- Aplicação de escalas específicas: questionários e testes que medem a frequência e a intensidade dos sintomas. Tais testes auxiliam mas não determinam o diagnóstico.
Para a confirmação diagnóstica, os sintomas precisam ser persistentes, estar presentes em pelo menos dois ambientes diferentes (por exemplo, em casa e na escola) e causar prejuízos significativos ao funcionamento da criança. Além disso, devem se manifestar antes dos 12 anos, ainda que o diagnóstico possa ocorrer em idades mais avançadas.
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IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE
A identificação precoce de sintomas é fundamental para iniciar o tratamento adequado e possibilitar que o paciente evolua de forma satisfatória e funcional. O entendimento da condição da criança evita rótulos inadequados, como preguiçosa e desobediente, minimiza conflitos familiares e promove aumento de autoestima do paciente e de sua família.
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TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
Os medicamentos de primeira linha no tratamento do TDAH são os psicoestimulantes. Estes medicamentos atuam na regulação de neurotransmissores responsáveis pela atenção e pelo controle de impulsos. Medicamentos não estimulantes podem ser usados como alternativa de tratamento.
Alguns pontos sobre o uso de medicação:
- Avaliação médica cuidadosa: o médico deve avaliar a presença de comorbidades, o histórico clínico e os riscos de efeitos adversos antes de prescrever o tratamento medicamentoso.
- Monitoramento contínuo: é fundamental acompanhar o progresso da criança e avaliar ajustes na dosagem quando necessário.
- Efeitos colaterais: efeitos colaterais podem se manifestar com intensidade variável. Além disso, podem ser transitórios ou manejáveis. Os principais efeitos observados são perda de apetite, insônia, dor de cabeça ou irritabilidade.
O tratamento medicamentoso não deve ser prescrito de forma isolada. Os pacientes diagnosticados com TDAH necessitam de acompanhamento psicológico para potencializar os seus resultados.
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TERAPIAS E INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS
Apesar do papel relevante da medicação em muitos casos, as terapias não farmacológicas também são fundamentais. Algumas das estratégias mais conhecidas incluem:
- Psicoterapia: auxilia a criança a lidar com as dificuldades advindas da sua condição, como sentimentos de frustração e ansiedade. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é a abordagem com sólidas evidências e permite o desenvolvimento de estratégias para melhoria da organização, concentração e controle da impulsividade.
- Orientação aos pais: fornece técnicas para gerenciar comportamentos inadequados, orienta formas adequadas de estabelecer rotinas claras em casa.
- Adeptação da escola e orientação de professores: o ambiente escolar deve ser adequado para evitar estímulos e distrações, do que são exemplos sentar próximo do professor e longe de portas e janelas. Alguns pacientes necessitam de atividades mais curtas, com tempo maior de intervalo entre as tarefas. A realização de um plano individualizado de ensino é fundamental para o bom desempenho de pessoas com TDAH.
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COMORBIDADES ASSOCIADAS
Crianças com TDAH apresentam comumente outras condições associadas. Entre as comorbidades mais comuns, destacam-se:
- Transtorno opositor-desafiante (TOD) e transtorno de conduta.
- Transtornos de aprendizagem (dislexia, disortografia, discalculia).
- Transtorno do Espectro Autista (TEA).
- Transtornos de humor (ansiedade, depressão).
- Transtorno de tique.
- Transtorno do sono.
Identificar comorbidades é crucial para definir um plano de tratamento eficaz.
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DICAS PRÁTICAS PARA FAMÍLIAS E CUIDADORES
Estratégias simples podem auxiliar os pais a lidar com as crianças no dia a dia:
- Rotinas definidas: estabelecer e implementar horários para acordar, comer, estudar e dormir.
- Listas de tarefas: formular lembretes visuais e checklists para evitar esquecimentos.
- Ambiente organizado: determinar um local para guardar cada objeto para facilitar a sua localização.
- Objetivos claros e curtos: evitar dar tarefas numerosas e complexas ao mesmo tempo.
- Reforço positivo constante: valorizar pequenos progressos para promover a autoconfiança.
Essas medidas ajudam a criança e o adolescente a se sentir mais funcionais, promovem bem-estar e autonomia.
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A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
O diagnóstico diferencial do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade é fundamental para garantir um tratamento adequado e evitar erros diagnósticos.
Diversas condições podem mimetizar os sintomas do TDAH, como distúrbios de aprendizagem, transtornos de ansiedade, depressão, dificuldades de visão ou audição e epilepsia (como a crise de ausência). Questões emocionais ou familiares também podem ocasionar comportamentos semelhantes aos do TDAH.
O neuropediatra deve realizar uma avaliação completa para distinguir o TDAH de outras condições e proporcionar um tratamento eficaz.
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O IMPACTO DO EXCESSO DE TELAS
O excesso de estímulos fornecido pelas telas pode piorar a desatenção ou a impulsividade tanto de crianças com o diagnóstico de TDAH quanto de crianças sem qualquer transtorno diagnosticado.
É importante estabelecer limites no uso de telas e propor atividades que estimulem o desenvolvimento cognitivo e social: brincadeiras ao ar livre, jogos de tabuleiro, leitura guiada e conversas em família.
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CONCLUSÃO
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) apresenta manifestações que variam em intensidade e requer um diagnóstico cuidadoso e um acompanhamento multidisciplinar.
O tratamento se baseia na combinação de medicação (quando indicada), acompanhamento psicológico e intervenções educacionais. O objetivo é minimizar o impacto dos sintomas e oferecer à criança melhores condições de aprendizagem e qualidade de vida.
Busque a ajuda de um profissional especializado se suspeitar de TDAH.
Referências
- American Psychiatric Association (APA). DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.