Dra. Paula Ribeiro – Neurologia Pediátrica em Alfenas – MG

O objetivo desse artigo é analisar em linhas gerais o transtorno do espectro autista (TEA), um transtorno do neurodesenvolvimento determinado pela presença de prejuízos de comunicação e interação social, associado a alterações do comportamento.

O neuropediatra é um dos profissionais especializados para o diagnóstico e acompanhamento de pessoas autistas. Para um diagnóstico adequado, é fundamental que se tenha conhecimento aprofundado do desenvolvimento infantil e das possíveis condições que apresentem sintomas semelhantes ao TEA.

Dra. Paula é especializada em transtorno do espectro autista e desenvolvimento infantil, com ampla experiência no atendimento de pacientes neurológicos.

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Símbolo do autismo

O QUE É O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA?

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por prejuízos na comunicação e na interação social, associados à presença de comportamentos repetitivos ou interesses restritos. Os sintomas se iniciam precocemente e podem ser discretos ou de difícil detecção. A sutileza dos indícios pode dificultar a constatação da condição e levar ao atraso no diagnóstico.

O TEA é classificado como um espectro, ou seja, existe uma ampla variedade de apresentações e intensidade dos sintomas.

FATORES DE RISCO DO TEA

Não existe uma causa definida para o autismo. O TEA é uma condição multifatorial, e é influenciado por fatores genéticos e ambientais.

Alguns fatores de risco conhecidos atualmente para o autismo são:

  • Sexo masculino – o autismo é mais prevalente em meninos. Suspeita-se que o TEA é subdiagnosticado em meninas, provavelmente devido à diferença de sintomatologia. Acredita-se que os sintomas são mais discretos em pessoas do sexo feminino e que meninas têm mais tendência ao mascaramento, que é tentativa de adequação social por meio do disfarce de comportamentos considerados autistas.
  • Irmão com diagnóstico confirmado de TEA – um estudo publicado em 2011 demonstrou que a chance de recorrência de autismo em um segundo filho de um mesmo casal que já tenha um filho autista é de cerca de 20%. O risco varia de acordo com o sexo da criança, sendo 26% de chance para meninos e 11% no caso de a segunda filha ser menina. A probabilidade de um terceiro filho autista é de 32% em famílias com mais de um filho diagnosticado com autismo.
  • Idade materna e/ou paterna aumentada – diversos estudos demonstram a associação entre aumento do risco de um filho no espectro com o aumento da idade dos pais, principalmente no caso de concepção após os 40 anos.
  • Prematuridade – estudos mostram associação entre bebês prematuros (nascimento com menos de 37 semanas) e aumento do risco de autismo. Há também aumento do risco de diagnóstico de TEA em bebês nascidos com baixo peso. Isso não quer dizer que todos os bebês prematuros ou com baixo peso serão diagnosticados com autismo.

SINAIS E SINTOMAS EM CRIANÇAS

Os sintomas variam em cada indivíduo. Abaixo seguem os sinais de alerta que sugerem a necessidade de uma avaliação especializada:

Menino empilhando brinquedos
  • Dificuldade na comunicação: prejuízo para iniciar e manter conversas, dificuldade para entender expressões faciais e linguagem corporal, atraso ou ausência de fala, presença de ecolalia (repetição de palavras ou frases);
  • Dificuldade em manter contato visual;
  • Pouca resposta ao nome quando chamado;
  • Apego a rotina, resistência a mudanças;
  • Interesses restritos, com foco intenso em um tema específico (por exemplo, dinossauros, números, letras ou partes de objetos);
  • Movimentos repetitivos, como balançar as mãos, movimentar o tronco para frente e para trás ou girar objetos;
  • Dificuldades na interação social, com redução do compartilhamento de atenção e da intenção social, com dificuldade para criar e manter relacionamentos;

COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO?

O diagnóstico do TEA é essencialmente clínico, ou seja, é realizado pela observação de comportamentos e a presença ou não das características e sintomas estabelecidos nos critérios diagnósticos. A avaliação do paciente por uma equipe multidisciplinar é a maneira mais adequada e segura para a realização do diagnóstico correto. Essa equipe pode contar com um médico (neurologista infantil, psiquiatra infantil ou pediatra especializado em desenvolvimento), psicólogo, neuropsicólogo, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional. Cada profissional possui capacidades distintas para avaliar aspectos individuais de cada paciente. 

A ferramenta diagnóstica mais utilizada é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria. Esse manual define critérios para a identificação dos sintomas centrais do autismo.

Exames complementares: o diagnóstico do TEA é clínico e, portanto, não há nenhum exame que o confirme. Alguns exames podem ser solicitados para descartar outras condições, do que são exemplos a audiometria, testes genéticos, eletroencefalograma e exames de imagem (tomografia ou ressonância).

DADOS ESTATÍSTICOS ATUAIS

  1. De acordo com a última atualização do Center for Disease Control (CDC) dos Estados Unidos, publicada em 2023, cerca de 1 em cada 36 crianças de 8 anos de idade foi identificada com TEA em 2020.
  2. O TEA é mais comum em meninos do que em meninas, com proporção de cerca de 4 meninos para cada menina.
  3. A intervenção precoce gera melhores resultados no desenvolvimento das crianças, principalmente se iniciada antes dos 3 anos de idade.

INTERVENÇÕES TERAPÊUTICAS E ESTRATÉGIAS DE SUPORTE

A intervenção deve ser iniciada assim que forem detectados atrasos ou prejuízos nos pacientes. Não é recomendado esperar a confirmação diagnóstica para iniciar uma intervenção. A intervenção precoce é fundamental na grande maioria dos casos. Os acompanhamentos indicados dependem de cada caso e podem incluir:

Terapia comportamental: A terapia comportamental é uma abordagem da psicologia que visa modificar comportamentos inadequados e disfuncionais. A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é uma ciência que utiliza princípios comportamentais, tem como objetivo ensinar habilidades específicas (comunicação e habilidades sociais, por exemplo) e reduzir comportamentos problemáticos.

Fonoaudiologia: profissional especializado em linguagem com capacidade para aprimorar as habilidades de comunicação.

Terapia ocupacional: o terapeuta ocupacional auxilia no desenvolvimento de coordenação motora, no processamento sensorial e no desenvolvimento de autonomia do paciente, ao trabalhar as atividades de  vida diária.

Intervenções pedagógicas: a escola deve estar preparada para fornecer um plano de ensino individualizado, que pode incluir adaptações curriculares, maior tempo para realização de atividades e presença de professor de apoio em sala de aula. A avaliação psicopedagógica permite que as adaptações promovam melhoria do aprendizado de cada paciente.

Medicamentos: o tratamento medicamentoso no TEA é usado para minimizar sintomas específicos associados ao quadro, como ansiedade, irritabilidade, depressão, hiperatividade, epilepsia e distúrbios do sono. Não existe um medicamento específico para tratamento do autismo.

Equipe multiprofissional no autismo

O PAPEL DA FAMÍLIA

família brincando

A família exerce um papel importante no desenvolvimento da criança com TEA. É fundamental que os familiares participem ativamente do processo terapêutico, com orientação de estratégias a serem implementadas no ambiente familiar. Algumas medidas auxiliam no dia a dia do paciente autista, como implementação de rotinas visuais, com quadro de rotina, e uso de comunicação clara, com instruções objetivas e curtas para facilitar o entendimento. Outras medidas que envolvem a estimulação adequada do paciente é a mitigação de estímulos estressores, como locais barulhentos, e uso de reforço positivo, com elogios e encorajamento. Os pais e responsáveis devem ser treinados para potencializar o tratamento do paciente.

O CUIDADO ESPECIALIZADO

O cuidado da pessoa autista exige um olhar individualizado para cada paciente. Vários fatores devem ser levados em consideração e influenciam o ajuste terapêutico, como:

  • Presença de comorbidades (epilepsia, TDAH, transtornos do sono, deficiência intelectual etc.).
  • Acesso a intervenções especializadas e recursos de saúde.
  • Presença de rede de apoio familiar e escolar.

Uma avaliação neurológica detalhada permite identificar as individualidades de cada caso e traçar um plano terapêutico em conjunto com outros profissionais.

CONCLUSÃO

Cada pessoa autista é única, com virtudes e desafios individuais. O acompanhamento especializado e precoce é fundamental para auxiliar no desenvolvimento social, acadêmico e emocional do paciente, assim como para criar um ambiente propício para que ele explore todas as suas possibilidades e potencialidades.

LINKS E REFERÊNCIAS

Baixe aqui o PDF com os com os marcos do desenvolvimento atualizados pelo CDC para acompanhar o desenvolvimento do seu filho

  • Associação Psiquiátrica Americana. (2022). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (5ª ed., texto rev.)
  • Ozonoff S, Young GS, Carter A, Messinger D, Yirmiya N, Zwaigenbaum L, Bryson S, Carver LJ, Constantino JN, Dobkins K, Hutman T, Iverson JM, Landa R, Rogers SJ, Sigman M, Stone WL. Recurrence risk for autism spectrum disorders: a Baby Siblings Research Consortium study. Pediatrics. 2011 Sep;128(3):e488-95. doi: 10.1542/peds.2010-2825. Epub 2011 Aug 15. PMID: 21844053; PMCID: PMC3164092.